domingo, 19 de novembro de 2017

A verdadeira história de Narciso

Narrada na primeira pessoa.

Hum! Vaidade!
Tanta gente dizendo que eu morri por “vaidade”
Ninguém sabe minha historia
Ninguém entende que sofri
Nem quando nasci se eu fui feliz

Eu era uma criança perfeita
Tão perfeita que minha propria mãe evitava olhar pra mim
Todos evitavam
Era só sair no sol que meu corpo brilhava
E todos assim quando me viam corriam
Evitavam me ver, me contemplar

Até quando comecei a falar
A minha voz era tão puro encanto
Que o mais simples pranto
Todos vinham como sede de deliciar

Eu fui crescendo e quanto mais crescia
Mais solidão vivia, ninguém ousava me tocar
Até minha mãe já não mais me olhava
O meu pai pra me salvar (dizia ele)
Mandou fazer um jardim
Murado alto com lago

E eu ficava ali sozinho
Eu e a lua a me olhar
O céu estrelas a contemplar
E lá

Certo dia fui ao meu jardim
E quando lá entrei
A porta fechou e nunca mais vi abrir
Havia uma roda e por ali servia
Roupa, comida todo dia

Então pensava por quê?
O que eu tinha de errado?
É tão assustador assim
Estar do meu lado!

É não, é! Não sei
Eu tenho que saber
Afinal sou eu
Eu sei reconhecer

Reconhecer sei
Ver! Ver!
Sei olhar vou ver
No lago então
Vou ver em mim
Sim sei vou ver e saber
Por que, por quê?

Meu rosto tão perfeito
Tão certo, simétrico
E como, por que dessa perfeição?
E o que é perfeito então?

Olhando e olhando
Assim vejo o céu
O jardim e tudo
E tudo é tão bom

Sim, é isso!
O bom, o certo, perfeito
E porque isto causa medo?
Medo, medo!


Bom, certo, perfeito
Comparar eu sei
Sei, as rosas, sim as rosas
Perfeitas lindas maravilhosas
Dá vontade de pegar, ter, possuir

Ai, humm espinho, hum por que tem espinho?
Sim a rosa tá ali linda é só pegar, mais se defende
Sim defende por quê?
Vamos ver!

Ahh sei se tirar ela morre! Há morte!
Ahh então é por isto que estou aqui
Meu pai só quer me defender
Como um espinho
A Proteger das forças, dos outros
Pra me defender

Defender! Defender do quê?
De mim! Da perfeição
Entendi então
Sou perfeito e por isto
Eles temem, não querem a perfeição

Mais não é de não querer
É de não entender
Agora entendo eu perfeito
Ninguém entende por que
Então temem ter, ver

Eu, a flor
A flor que arranquei morreu!
Isso! Eu também posso morrer
Eu vou morrer como tudo morre
Cai, como as folhas no outono
Não o outono, o outono
Vai matar meu jardim!
Vou morrer!
Ou vou viver!

Tudo morreu, não eu
Não agora, é inverno
E eu, aqui olhando contemplando
O Tudo
O Todo
A morte
Tudo parado congelado

E eu aqui no lago

Nada a fazer só olhar
Só ver, mais o que eu olhar?
Sim eu mesmo!
Eu me vi e descobri
Há morte um dia vai chegar

Ah sei vou me olhar, e ver
Quem sabe descubro mais
Só olhando pro meu ser
Perfeito eu, eu e tudo
Tudo! É isso! Tudo mesmo assim
Parado congelado
Volta a ser, viver

E eu morrer, voltar a ser
Viver, será!
Será isto que meus olhos dizem?
No fundo deste nada
Tem sempre um vir a ser

Sei eu! Perfeito e também o tudo
Tudo volta pra ti, sempre tudo
E eu vou pro tudo
Sim morrer é voltar a ser tudo

Eu vou para o tudo perfeito
Como a primavera que chega
E modifica multiplica
E eu como multiplico?

Multiplicar, sim a primavera
Tudo cresce volta, reaparece
E multiplica as flores muitas cores
Novamente o tudo, o não morrer

Sim é isto o morrer e não morrer
Tem duas formas de ser
O real de tudo e o de não ser
E multiplica tudo
Um de ser e de vir a ser

Assim pólen de uma flor
Para outra flor
De um ser e outro ser
Para o vir a ser

Sei, sou, sim amor
Isto é o amor
O querer amar

Amar tanto o que sou
Como o que não sou
O que serei o que posso ser
De poder vir a ser

Ser amor, o puro amor
O perfeito, a verdade, a vida
Sim, reconheci novamente
Sou o tudo que pode ser
O amor à verdade e a vida

Serei eu e de mim mesmo, um vir a ser
Tudo que é bom é temido
Assim como eu cercado protegido
Também tenho meus espinhos
O meu pai fez tudo isso pra me mostrar
Pro meu ver, sabia que no lago eu iria reconhecer

Mais como multiplicar isto de mim?
Outro ser preciso ter, como homem
O outro então, mulher como minha mãe
Mulher ser, vir a ter então novo ser de mim
Filho então serei de mim para o pai de tudo enfim

E onde está esta mulher para ter eu e ela novo ser?
Mulher entrega, ser perfeito então outro ser como eu, tem?
Aonde, quem? Como encontra-la?
No lago olhar e ver e mais uma vez reconhecer
Quem perfeito para eu ter? Quem é você? Quem?

Sozinho eu o lago
O tudo quem é ela?
Deve ser linda
Como a primavera que me cerca
Cerca com todo carinho e amor,

Amor!

Sim te achei e juro, juro sempre te amarei
Tão feliz que te achei e tão grande é meu amor por ti
Que ti amo sim, ti amo ohh tudo mais que tudo
E me perdoe tanta a ignorância você sempre esteve aqui
Sempre, sempre...

Ti amo, tú como a mim mesmo e tudo, tudo mais que tudo
Nossos filhos serão perfeitos todos eles serão eleitos
Para viver pra sempre eu como pai e você como mãe
Ohh Terra ohh lua ohh estrelas sei agora por que estou aqui
Foi meu amor por ti e o seu por mim minha grande amada
Tudo eternamente serás adorada

“És ti toda criação”
Minha eterna amada

O meu saber do próprio saber
Jamais deixarás tu morrer
E ser congelada,
Pois a chama do meu amor por ti
nunca serás apagada
Serei o seu mais forte muro protegendo-a do nada

És tú toda criação a minha grande amada
E vou até o infinito destruir o todo nada
Pra ti sempre ser a eterna iluminada
Luz do meu ser tanto me vez ver
Que sempre serei seu
Por fazer em mim morada.

Irei eu eterna amada
Me entregar ao fundo do lago
O fundo do nada
Tudo e todo meu ser
Que no fundo é só um nada

Me levo agora a ser o ser do vir a ser
Pra multiplicar eu de mim, filho de ti
Indo a ser pai de ti até o fim
Que enfim, sem muros sem espinhos
Diante deste nada me farei nada e serei tudo
Eterno limpo e puro como água
Então agora e mesmo sendo água
Parecerei contigo só agora sendo água
Jamais estarei sem toque
Pois serei contigo tudo e nada
Amor, verdade e vida
De um vir a ser, agora sou só eu e você
Ao encontro no nosso nada
Estou indo pra você mergulhando nesta água
Deixo ser para ser só seu
Oh doce e eterna amada.


Vida!

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