Vitimas! Palavra que vem do latim Victimia que quer dizer: Vencido, portanto ser vitima é perder algo para outro alguém!
Num mundo onde todos querem vencer logicamente muitos têm de perder, e como ninguém quer se dar por vencido todos postam suas vitórias como se estivessem acima do próprio mal que outrora as derrotaram.
Vítima era também o ser que era imolado (sacrificado) aos deuses como uma oferta por algo recebido. E como ninguém quer morrer, ou seja: se sacrificar; as pessoas também não querem mostrar o quanto foram vítimas do mal, ou que o mal roubou suas honras, seus valores e sua alegria. Como alguém que atravessa um pântano, mas não quer mostrar que se sujou nele. No entanto, as vítimas em seus incômodos profundos não conseguem esconder por muito tempo o lado sujo de certas “vitorias” e começam de forma indireta a mostrarem seus desconfortos perante o mal, como vitimas buscam mostrar o ódio pelo mal ao xingar e ofender os malignos que ainda há no mundo! De certa forma eles acabam assim exibindo não o mal, mas as próprias fraquezas e com isso apenas fortalecem as estratégias e formas para que o mal novamente vença e triunfe sobre os mais fracos.
Para entender, imagine um técnico de futebol que por ter um time mais fraco tenta chamar a atenção falando sobre a velocidade dos jogadores mais rápidos do seu rival e com isso ele mostra a falta de velocidade dos seus próprios jogadores. Para o rival fica evidente que usar um número maior de jogadores mais rápidos é então uma vantagem muito maior.
A nossa própria sociedade em sua busca incessante por vitórias não quer saber e nem ouvir os mais fracos, consequentemente ninguém quer dar ouvidos as vítimas e assim a única forma de demonstrarem indignação é através de fatos indiretos e até longínquos de seu próprio convívio.
É só olhar para casos como: pedofilia, por exemplo, se busca mostrar fatos ocorridos no interior de uma pequena cidade em um estado bem mais pobre, geralmente norte e nordeste do Brasil, e assim parece que não temos aqui nas grandes cidades e capitais as mesmas vítimas, como se todos aqui não tivessem sofrido algum tipo de assédio sexual na infância por adultos. Com isso evita-se e distancia-se de olhar para dentro do nosso próprio cunho social e vermos quantas vitimas disso temos em nossas próprias famílias. Assim protegemos nossos dias festivos, como dia dos pais e natal onde um bom velhinho em meio à multidão coloca criancinhas no colo.
O problema maior de se tentar calar as vítimas está diretamente ligado ao problema de nossa própria EMPATIA.
Empatia é a faculdade que temos em sentir o que o outro sentiu, que não se trata de se por no lugar do outro e sim entender o que o outro está sentindo ao se imaginar vivendo na mesma situação, e como ninguém quer se sentir derrotado todos de certa forma não querem ouvir as vítimas. Com isso criamos um pacto de silêncio perante o mal, mas apontamos o mal que nos ocorreu, de forma indireta, ao relatar o mesmo tipo de mal localizado distante de nós.
As pessoas querem ter Empatia com os mais fortes e com isso acabam tendo empatia (ainda que não pareça) exatamente com seus algozes, ao exporem o mesmo ímpeto ofensivo e violento, como quem ergue a espada para imolar suas vítimas, acabamos assim tentando mostrar que o certo não é matar os aflitos e sim aqueles que os aflige, assim trocamos uma vítima derrotada por um derrotado em fazer o outro de vitima e neste caminho acabamos nos tornando tão insensíveis quanto aqueles que por falta de empatia com a inocência e fraqueza do mais próximo, us-o para elevar sua demonstração de ódio e força.
A palavra vítima tem também sua ligação com outra palavra em latim victimia; que quer dizer dominado, e como se não bastasse ser vitima de um mal, ou seja: Ser derrotado pelo mal, você ainda tem que mostrar perante os mais “fortes” que é um dominador como eles! Com isso fazemos aqueles que foram um dia vitimas os futuros e promissores agressores do próprio mal que um dia os afligiu, já que nossa sociedade não tolera a fraqueza e falta de domínio de seus ressentimentos.
Existe, hoje em dia, uma enorme falácia, em todo e qualquer assunto, sobre o “VITIMISMO” onde se impõe uma certa insensibilidade com os fatos do passado e uma superficial SUPERAÇÃO do mal e assim se obriga as vítimas a esconderem todos os seus sentimentos. Tem um filme chamado Fresh que conta a história de um garoto negro que vive em um mundo cercado de drogas e de insensibilidade. Usando as mesmas estratégias de um jogo de xadrez as pessoas para ele são apenas peças em um tabuleiro e com isso ele consegue inteligentemente transformar tudo aquilo ao seu favor, porém sem nenhuma empatia com as peças, a única coisa que importava era se manter protegido, assim como o rei no xadrez.
Não distante disso é assim que estamos vivendo e fazendo com que as pessoas escondam o fato de terem sido vítimas e que vençam com toda apatia e até com certo dolo em não se importar em ferir os mais próximos...
Como se não bastassem toda essa opressão as vítimas, as pessoas ainda confundem o que elas relatam com COITADISMO!
O Coitado é aquele que é visto como constrangido, que ao se ver inferior ou incapaz é obrigado a obedecer às imposições dos outros. Portanto, ao ver o relato de uma vítima imediatamente vemos obrigados por empatia a ressentir e reviver, ainda que indiretamente, os mesmos fatos e isso gera constrangimento, uma vergonha, um dolo ainda que vindo de outrem, e com isso as vítimas são colocadas como Coitados que não tem nenhuma força ou vitalidade para escapar de certas situações.
Para evitar isso quase que de modo automático busca-se cortar a progressão do relato das vítimas e assim se escapa de sentir aquele dolo, com isso se faz que a vítima sinta que a sua dor não tem importância e com isso acaba novamente aceitando ser o ser que é usado ao sabor e domínio do outro!
Parece que não tem jeito para as vitimas!
Quando eu era criança, por muitas vezes eu fui agredido, até por ser um garoto que parecia filho de rico em meio a uma população pobre; tentativas de estupro e até mesmo de impedir que eu pudesse relatar meu senso de justiça, mas não me deixei ser vítima e para ter que me proteger muitas vezes menti e fingi, como um ator em um palco, mas isso me custou um preço também; sempre ao dizer qualquer coisa as pessoas pareciam não saber se eu estava mentindo ou se estava brincando, se estava apenas fingindo ou se era uma demonstração de sentimento verdadeiro.
O tempo passou!
Mas muito pouco mudou; de minha parte desisti da mentira, por outro lado dizer a verdade me levou ao isolamento; aprendi a me calar, mas aprendi também que minha vitória veio exatamente do mundo onde todos fracassaram. Ter sido vítima fez eu ver como tantos neste mundo não passam de coitados que só obedecem ao ódio por medo de serem vítimas do mais inocente amor que possa haver entre os homens!
Espero que um dia as vitimas possam serem ouvidas para que os coitados passem a ser os mais fortes que ainda sabem mentir!
E mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira!
Não sou mais criança, quem sabe a que ponto poderei chegar assim!
Agora é só esperar!