domingo, 15 de outubro de 2017

Embalados Pela Normose


            Quando vou ao mercado ando pelos corredores e fico procurando, principalmente comida, mas quase não vejo mais isso!
            Parece contradição, e é mesmo, pois só vejo embalagens, embalagens e mais embalagens; o que é até engraçado, é que até no pacote de arroz tem foto de arroz, e algumas embalagens são tão desenhadas que quase não se vê nem o arroz, o pior são os bichinhos com carinhas sorridentes todos alegres e felizes, mas são na realidade: Comidas!

            Tem foto de franguinho sorrindo, e já vi frango com chapéu de cozinheiro segurando um pedaço de frango empanado! Seria um frango canibal?

            Sem falar nos salgados!

            Tem sacos de salgadinhos que são todos coloridos com muitos bichinhos alegres tentando te convencer que dentro daquela embalagem tem algo muito bom que vai te fazer feliz, e o que mais tem é ar e um tipo de isopor com sal e algum aroma pra disfarçar que é só sal mesmo!

            Sinceramente eu perco totalmente a fome dentro de um supermercado, às vezes me vejo comprando algo mais porque tenho que comer, mas se depender das embalagens eu nem abriria o pacote!

            Vai ver que é por isso que eles colocam moças bem bonitas, cheias de sensualidade e te oferecem uma amostra grátis de algum tipo de alimento, pois se depender da embalagem você nem pensa em comprar aquilo.

            Sabe o que é interessante disso tudo?

Estamos nos tornando muito parecidos com estes produtos, melhor dizendo: Embalagens!

            Veja só:

            As pessoas buscam falar para o outro somente aquilo que o outro indica, através de sua embalagem, o que o outro quer ouvir. É quase como se você tivesse que ser como aparenta ser, e daí a sua existência assume as características personificadas nisso. Então as pessoas que mal sabem quem realmente são, aliás, essa é a grande beleza da vida e poucos entendem, que toda a nossa grande descoberta pode ser feita ao observar a nós mesmos... Mas os grandes sábios do passado perderam para essas novas embalagens que as pessoas agora buscam ter, são tantas as opções, rótulos, carimbos e até mesmo simbologias desenhadas em suas peles, metais espetados no corpo... Bom, algumas pessoas podem achar que sou algum velho católico de direita controlador por falar isso, e olha só! Já está querendo-me por em alguma embalagem e ai é fácil passar por cima, ou melhor, passar de lado e ir em busca de outro produto, é só ignorar tudo que eu vou dizer já que a embalagem que você está me dando é contra o produto que você é!

Olha o auto engano!

            Eu não estou ofendendo ninguém, e aproveitando a deixa quero dizer que: a ofensa é um fracasso pessoal, como costuma dizer: Leandro Karnal; estou apenas observando e interligando o fato das pessoas se vestirem e até se despirem e ainda continuarem com um tipo de rótulo de proteção ao ego... Bem se você acredita que não é tão ruim viver num mundo onde nem comida parece ser comida, que tal um mundo humano onde seres humanos estão regredindo a capacidade de ser um ser humano?

Isso tem um nome:
Normose.

            Normose é um termo usado para dizer que quando as pessoas estão muito próximas de idéias e se aceitam mutuamente sendo que cada um segue padrões diversos de formas de ser você pode estar apenas seguindo a risca uma cartilha de bom convívio quando na verdade sofre por uma busca em se adequar a essa normalidade superficial.

Analise:
            O psicólogo Pierre Weil foi uma das pessoas que passou por essa experiência de normose. Pierre era o que podíamos chamar de “bem sucedido” ele tinha tudo que achamos ser a receita de uma vida de sucesso: Casa no Campo, casa com piscina, carros, Cargo na Universidade, cargo junto ao presidente do maior banco da América latina, seu consultório, seu livro Best-Seller, entrevistas em rede de TV, tinha, tinha, tinha. E toda sua vida se resumia em TER.
            Cansado de ter, ele viajou pelo mundo pra descobrir o porquê que dentro de si ainda havia uma infelicidade profunda. Em um centro de meditação ele observou algo interessante, depois da seção às pessoas relatavam que tiveram visões, ouviram, sentiram algo e ele nada!
            O mais interessante é que ele percebeu que: A maioria das pessoas fora do centro de Meditação também não tem visões, nem ouvem ou se inspiram por algo mágico, mas ali, em meio aquelas pessoas a mágica ocorria...  Ele passou um ano de sua vida fazendo isso e nada! Em meio aquelas pessoas ele era anormal, e as pessoas normais, no entanto e fora daquele pequeno Universo, todas as outras pessoas não tinham visões e quem tinha era considerado anormal. Neste contraste ele percebeu como que as pessoas se induzem a crer por Normose.

            Existe uma fantasia de que uma crença compartilhada se torna relativa na visão daquele grupo, pois se “acham” dotados de dons especiais. Acontece que isso leva as pessoas a viverem de certa forma e da mesma forma como os produtos nos corredores de um super mercado!

            Sim, isso mesmo, as pessoas entram em um determinado corredor pra pegar tal produto, assim como as pessoas se vestem (rotulam) para ir à academia de ginástica, por exemplo, é claro que não há erro nisso, mas isso as induz a um tipo de normose por status quo que quer dizer: estado atual, e o interessante é que as pessoas estão cientes disso e até dizem: - Agora é hora da minha academia! E então só falam dos assuntos relacionados a seu tempus academic e ao sair de lá já vão direto pro seu outro estado, outro corredor e outros produtos co-relacionados, como ir ao trabalho, e ai já é outra vestimenta, outros rótulos, mas como que pra mostrar que esteve em um outro corredor carregam em si o rótulo do momento anterior e assim se está vivendo a vida de um corredor para o outro, de uma embalagem a outra, estamos apenas protegendo na escuridão nosso produto interno enquanto nosso ser exterior é sempre de bem com a vida, alegre e feliz como os bichinhos das embalagens.

Sintomas:

            Assim como Pierre Weil passou por momentos de infelicidades em meio a sua prosperidade normótica, as pessoas hoje em dia são cheias de infelicidades, tanto que se esforçam a cada dia pra alcançar a prosperidade como desculpa de não ser feliz por não ter, como não ter bons móveis ou uma boa casa, mas o que é uma casa?
 
            Entenda que uma casa mobiliada cheia de coisas e tudo mais é o mesmo que um supermercado cheio de produtos, e assim como eu não sinto nenhuma vontade de comer dentro de um mercado, mesmo estando com fome você também não vai se sentir feliz sendo você o dono de muitos produtos, tanto dentro quanto fora de sua casa, pois uma casa, coisas e tudo mais são no máximo apenas formas, apenas maneiras dispostas aptas ao seu dispor, explico: Uma cadeira está disposta a ser um objeto para que você se sente, mas sem tempo para sentar qual a razão da cadeira em sua casa?

            Da mesma forma, sem muito tempo para preparar alimentos, sem disposição para fazer, qual a razão de comprar uma massa de bolo pronto?

            Entende que estamos cheios de infelicidades por termos coisas demais a nossa disposição e sem tempo de colocar um pouco de nossas vidas nessas coisas?
            Poderia fazer mais relatos sobre isso, mas vamos findar os sintomas e descobrir agora as:

Causas:

            O fato de termos embalagens lindas, não significa que temos um bom produto ali dentro, muitas vezes este nosso vazio é muito semelhante aos salgadinhos que são cheios de... Se mastigar bem, quase nada!
Estamos nutrindo a vida exterior, mas não estamos trazendo nada ao nosso ser interior, como já disse em outro artigo, é uma enorme ilusão achar que podemos fazer o que bem queremos, com nossas vidas, nossos corpos e tal e não percebemos que essa busca tem nos levado a essa normose doentia onde ser normal é fazer o que todo mundo faz, mas sem um aprofundamento de pensamentos nos tornamos apenas seres propagandas de embalagens sem a menor atenção ao produto que vendemos. Tudo que fazemos tem relação com o mundo exterior, só que nada existe pra si. (segue imagem)


            Assim, nos embalamos com uma imagem e não colocamos nessa imagem o nosso próprio ser próprio, acaba sendo próprio apenas o que de comum temos e então o seu ser fica como um produto vazio, algo sem importância... Você pode não gostar disso, também não gosto, mas qual importância que temos agora para pessoas que diziam ter nos amados e depois nos abandonam por um pequeno motivo qualquer?

            É como alguém que compra algo pela embalagem e depois que abrem e comem, parece que não gostam muito do sabor e não nos consome mais, em outras palavras, não nos quer mais em suas vidas!

Olha como é duro encarar isso!
Como chega a dar uma sensação de mal estar em pensar que somos gostosos por fora e amargos por dentro! Até chocolate meio amargo tem vez na dieta de alguém, mas quem é abandonado não é só por ser um pouco amargo, é como se fosse estragado mesmo!

Saindo da embalagem!


            Já olhou nos olhos de uma pessoa, até feia mesmo, mas viu uma beleza inexplicável saindo daquele olhar?

            Pois é!
            É por isso que tem gente que gosta que fale olhando nos olhos, isso é na realidade a busca por empatia, por uma ligação profunda, mas envoltos de embalagens os olhos se tornaram também o único conteúdo daquele produto, mas assim como os rótulos certas descrições não são tão verdadeiras assim ao produto e acabamos provando e até levando algo pela sedução, assim como a moça que oferece uma amostra e os rótulos seguem com letras bem miudinhas pra dificultar visão de uma realidade. Assim acabamos lutando pelos interesses de vender algo e compramos coisas, idéias imagens e semelhanças que no fundo não nutrem nenhum pouco nossas almas e todos acabam saindo como eu saio do mercado: Vendo tantas e tantas embalagens e sei que aquilo vai me nutrir tão pouco, o engraçado disso é que as coisas realmente saborosas estão dispostas lá no fundo, puras, ao natural e sem nenhuma embalagem, você até tem que pegar um saquinho, decidir por uma ou outra mais suculenta e comprar. E é justamente o que está em seu estado mais natural que é o mais saudável que podemos ter, talvez precisamos disso:


Voltar para o estado mais natural do homos e deixarmos o sapiens numa embalagem mais transparente, sem medo de mostrar o que somos realmente.

Extra! Extra! Extra!
Este vídeo de um Xará!

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